Tuesday, January 29, 2008

Costumo poupar as pessoas das minhas opiniões sobre obras cinematográficas (em parte porque elas sempre tendem a considerar idiota um cara que prefere westerns ao Woody Allen. Uma questão de defesa, portanto). Abro uma exceção aqui. Depois de indicar o filme abaixo por e-mail pra uma amiga, foi só fazer umas mudanças e pimba! Ei-lo:

Gata em teto de zinco quente – 1958

Que ninguém ouse duvidar de Paul Newman ao incorporar personagens secos e intratáveis. Gata em teto de zinco quente é mais um exemplo disso, num drama sobre relacionamentos familiares que é um emaranhado nada frugal de mágoas e ressentimentos. (Temática a que Newman voltaria, cinco anos depois, em O Indomado.) Antes um famoso jogador de futebol americano, Brick (Newman) é agora um alcoólatra atormentado pela culpa, dono de um desdém imensurável pela mulher, Maggie (Elizabeth Taylor) e pela família. No dia do aniversário de seu pai, Harvey (Burl Ives), ele é informado de que o patriarca recebeu um diagnóstico de morte rápida. Durante a noite da festa, tudo vem à tona: o tácito ódio que sente pelo matrimônio, a culpa pelo suicídio de um antigo parceiro de campo, o relacionamento materialista com o pai e a ganância de metade da família, mais preocupada com a herança do que com o câncer de Harvey. Tudo temperado por insinuações de um antigo caso homossexual e uma Elizabeth Taylor capaz de fazer qualquer ser humano se sentir o mais horrendo dos seres vivos.
Adaptado da peça de Tennessee Williams, o filme se sustenta em diálogos excelentes, como quando Maggie questiona Brick:
- Eu me sinto uma gata em teto de zinco quente. O que devo fazer?
- Pule do telhado.

Uma trama sobre o embrutecimento das instituições familiares. É só dar o play e esperar para ser arrastado.

Saturday, January 19, 2008

Este era pra sair na Folha do Boqueirão. Um amigo que trabalha na bagaça me convidou para publicar há semanas, quando eu estava bêbado, num daqueles botecos indies insuportáveis em que você só consegue permanecer algum tempo se estiver com uísque saindo pelas orelhas. Enfim, um mês depois, após esquecer da proposta umas dezoito vezes, aprontei ele na quinta. O número de caracteres aleijou um pouco minhas piadas infames (algo bom, finalmente!). O tema é municipal. Não sei se foi publicado ou não, mas segue aqui:


Uma lembrancinha boba... Nem precisava

Vamos ganhar mais uma praça. Muito da importante, diga-se. Este ano, quando Brasil e Japão comemoram o centenário da imigração japonesa pra estas bandas. Friso: ambos comemoram. Brasileiros comemoram e japoneses, que em cem anos não se deram conta da enrascada em que se meteram, comemoram também.
Curitiba, diz-se, é a segunda colônia brasileira de nikkeis, que ao contrário do que pode pensar o leitor mais desapercebido, não são acionistas da Nike. São, sim, japoneses e descendentes que vivem fora do Japão. Japão que, em matéria de japoneses, anda muito mal servido ultimamente, tantos são os que andam por aqui.
Curitiba, dizia, é a segunda maior colônia de japoneses no Brasil. Perdemos, como já estamos acostumados a perder, pra São Paulo. Os números não são exatos. Chutam uns que por aqui há de 30 a 50 mil mal bronzeados filhos do sol nascente. Doze mil deles constam na lista telefônica, segundo o secretário do Governo Municipal, Rui Hara. Não pude entender exatamente a relevância dessa informação. Entendo, sim, o sofrimento pelo qual deve ter passado o pobre diabo que foi obrigado a contar 12 mil sobrenomes enrolados nas letrinhas miúdas do catálogo telefônico. Um estagiário, muito do possivelmente.
Voltemos. Por ocasião do centenário, comemorações e mais comemorações estão previstas. O príncipe nipônico vem ao Brasil. À Curitiba, não. Por aqui não passarás, nem para ver o presente que daremos aos pacíficos (pois o Japão fica no Pacífico, garante-me o Mapa Mundi) japoneses.
A celebração começa no dia 25 próximo e vai atééé setembro. Lê-se na internet que serão comemorações com eventos japoneses, danças japonesas, feiras japonesas, lançamentos de livros sobre japoneses e comidas esquisitas tipicamente japonesas. Nem uma mísera linhazinha foi escrita, porém, sobre saquê e lutas de sumô. Uma pena.
E sem saquê mesmo, seguirá a disciplinada festa, que só terá sua sobriedade oriental abalada pela entrega do já citado presente. Ei-lo: uma praça, dedicada ao centenário da imigração. Novinha. Nada de recauchutar a boa e velha Praça do Japão. Não! Os japoneses merecem e vamos dar-lhes uma praça nova. Ficar remendando pegaria mal para nós, brasileiros.
Resta saber, agora, o que diabos poderão os japoneses fazer com uma praça.
Bonsais, talvez.

Thursday, January 10, 2008

Bolas!

Não, não tem nada a ver com os produtores masculinos de gametas. E tá aqui.

Um dos dois leitores deste blog podia me convidar pra uma cerveja.

Tuesday, January 08, 2008

Acho que não é à toa que I Just Want to Have Something to Do é a faixa que abre o Road to Ruin, dos Ramones. Cabeça vazia...

...

- Terminou o catálogo?
Não.
- Fez as atualizações?
Não.
- Foi à praia?
Não.
- Escreveu aquele texto?
Não.
(Todos, em uníssono).

- E por quê?
É janeiro, oras.
Ninguém faz nada em janeiro. Epílogo do ano. O chumbo já vai ser grosso adiante. Janeiro é hora de descanso, de ficar de buenas, numa tranqüila, numa boa, coisa e tal, tal e coisa, etc. Rotina: acordar às dez, matar tempo até a hora de ir pro trabalho, sair às seis, botequear duas ou três horinhas pelos pés sujos do centro, sair, mas ainda tá claro, horário de verão, melhor voltar, botequear mais um pouco. O cigarro rebate o conhaque, a cerveja rebate o cigarro, o conhaque rebate a cerveja e, nessa rebateção, acabo rebatido no balcão. Hora de ir pra casa, fuça aqui, fuça ali, bêbado demais pra ler um livro, não tem jeito, as letrinhas não ficam quietas. Desce pro portão. Devia ter ido à praia. Este ano vou guardar dinheiro. Peraí, mas isso é uma resolução. Putaquepariu! Sai, coisa ruim. Praia o caralho. Pé vermelho não se cria na areia. Não tem jeito, não dá liga, não da pé, não orna. Nem sei nadar mesmo. Melhor dar uma volta.
Meia hora depois, casa.
- Vou escrever!
Nada. Sem idéia, sem mão. Ah, pro diabo. Eu nem sei gramática mesmo. Café. Enrola, enrola, enrola. Duas da madruga. Não durmo. Sem chance. Ô diazinho infame. Pego o telefone:
- E aí, fazendo o quê?
- Porra, eu tava dormindo.
- Ah! Verdade. Desculpa aí. Nem lembrei.
- Tá. Que que é?
- Vamô saí?
- Hã?
- Dá um giro. Botequear.
- Porra, eu tava dormindo.
- Tá, tá, tu já disse. Mas agora não tá mais. Eu já te acordei mesmo.
- Filhadaputa!
- Ok, ok. Mas então?
- Ah, cara, deixa pra amanhã.
- Tá, tá. A biba tá cansadinha. Já entendi. Até.
Anda pela casa. Cinco da manhã e nada de dormir. Ainda bem que é janeiro. Dá pra acordar às dez.

Monday, January 07, 2008

Eu tenho amigo homem, eu quero amigo gay...

“Todo homem é um corno em potencial diante do Chico Buarque”, teorizou certa vez Nelson Rodrigues, que não era exatamente bonito e devia estar tentando justificar uma galhada. De buenas, Nelson, há tempos já diz a sabedoria dos pára-choques de caminhão que chifre foi feito mesmo pra homem, os bovinos só usam de metidos a touro que são.
E tudo bem. A mulherada é mesma unânime: todas dariam para o Chico, segundo pesquisa recente de minha autoria que incluiu uma amostragem razoável. O que me surpreende agora é que homens, amigos meus, também queiram entrar nessas empreitadas de sodomia e felação.
- Eu daria para o Chico – disse um amigo meu, na mesma noite da pesquisa, algumas cervejas e doses de conhaque depois.
A namorada cutuca-o. Eu fico chocado e brigo com a língua enrolada tentando articular uma sentença em resposta. Refeito, cuspo a frase, junto com uma porção de perdigotos, alguns momentos depois.
- Amigo meu não mexe com essas armas, não! – exclamo.
Mas minto. Eu tenho amigo homem, eu tenho amigo gay, olha eu sei lá, etc., etc., etc. Não só um amigo gay clássico. Tenho dois ou três daquela outra variante, mais moderna, o metrossexual, quase, quase saindo de vez do armário. Acolho a todos, boa alma de sou, e sou acolhido por eles, interesseiros que são. Mas ganho com isso. Ser gay é cool, colorido, bacaninha, causa boa impressão. E eles emprestam essa aura aos acompanhantes. Então, você, machão clássico, devia também arrumar um amigo gay. Tu vai parecer mais sensível, mais culto, rapaz. Vai por mim.
Sem falar que o machão clássico tá em extinção. Aquele que enche os cornos de cerveja, quer sempre resolver as coisas na mão, passa os domingos vendo jogos do Corinthians, não tem saco pra ficar assistindo filmes do Antonioni só pra parecer inteligente e não sabe a diferença entre shorts e bermuda – eu aprendi essa, também no bar, ontem. Somos artigo raro, peça de antiquário, quase desaparecendo – chamem o Greenpeace!
Mulher não quer mais o machão clássico. Somos insensíveis, grosseiros, meio burros, não sabemos conversar sobre moda ou decoração e, o pior, não somos mais úteis, porque agora os potes de conserva vêm com aquelas frescurinhas que facilitam o ato de abertura – maldita tecnologia. Por isso, precisamos de amigos gays. Eles têm muito a nos ensinar. Como se portar, como ornar, como reparar em novos penteados do tipo “ah, percebeu que eu cortei as pontas?”, etc., etc., etc.
Repito: no mundo de hoje, todo homem precisa de um amigo gay. Por isso, meu amigo que tá pensando em dar pro Chico, vai lá, vai fundo, capricha, dá uma, duas, três, quatro. Depois volta e me conta como foi. Mas conta tuuuuuudo.

Besteiras que os outros dizem

Quatro imbecilidades que catei durante alguns dias de navegação por sites de notícias. Acho que vou começar a ver mais televisão.

“Uma tragédia mal sucedida” – roteiristas da novela das oito da Globo, que precisam estudar melhor a semântica de “tragédia”.

“Meu caso de amor com Chico [Buarque] começou antes do meu nascimento. Quando houve a explosão do Big Bang, quem detonou a explosão foi o Chico” – Sonia Braga, numa tentativa idiota de ser espirituosa.

"Eles já têm na Nasa uma nave que leva as pessoas para passear na órbita da Lua. Pretendo ir ano que vem" – Uma tal de Alessandra Ambrósio, modelo, explicando como pretende dar cabo da sensação claustrofóbica de viver em um mundo “peque demais”.

“O formato só é atraente porque nunca foi igual” – Boninho, falando da nova edição do Big Brother. O entrevistador esqueceu de questioná-lo a respeito do formato das novelas globais. Paciência.

Thursday, January 03, 2008

NOVO?

Então os 365 dias de 2007 já acenaram do porto e parece que agora tá valendo. Tento puxar pela memória alguns acontecimentos do ano que passou, pra tentar descobrir se o saldo é bom ou ruim, mas desisto. Sempre fui um desmemoriado. Sem resoluções pra este ano. Bom, talvez duas: manter uma média de pelo menos um livro por semana e enfiar de vez na cabeça que beber uísque antes das dez da manhã nem sempre é uma boa.
E início de ano é assim mesmo: tudo funcionando em segunda marcha, engasgando como a ignição de carro a álcool no inverno. Agora é esperar o carnaval, pra galvanizar de vez os 366 dias vindouros que mal adentraram a festa e já estão ressaqueados. Por enquanto, tudo funcionando a meio volt. Talvez seja isso que estimula toda aquela típica e deprimente reavaliação de fim/início de ano. Em dezembro, a festa pode até ser de Jesus Cristinho, mas quem precisa limpar a bagunça é você, num famigerado fim de noite ao som da trilha sonora da Simone.
É isso aí. O baile tá pra começar. Hora de trocar o figurino, som na caixa, cerveja gelando, a Terra brincando mais uma vez de ciranda em torno do Sol. Tudo outra vez. Divirtam-se. “Não há muito mais o que se fazer por aqui”. Sábias palavras.