Sunday, December 23, 2007

operação final de ano. semana que vem eu avacalho com o ano novo.


travessuras do natal

sempre desconfiei do papai noel. a única coisa que minha vida inteira o vi segurando é uma garrafa de coca-cola. e tal qual mário quintana desconfiava daqueles que não fumam (“fumar é uma maneira disfarçada de suspirar”), eu desconfio daqueles que não bebem. carrego a firme convicção de que qualquer pessoa que se negue a beber pelo menos uma cervejinha de vez em quando não pode ser uma pessoa boa de todo.
papai noel, no entanto, é carta fora do baralho – “ele está morto”, sentenciaria nietzsche após são nicolau abotoar suas vestes escarlates, embora crianças, shopping centers e publicitários de empresas de refrigerante neguem-se a admitir o óbito. a pior coisa do natal é mesmo o espírito do dito cujo. é inegável que existem outros fatos ruins também, como pinheirinhos artificiais repletos de quinquilharias atravancando o já atrapalhado fluxo de pessoas em salinhas de apartamentos de aluguel. ou as milhões de luzinhas intermitentes espalhadas pela cidade. ou o fato da sua avó nunca acertar o número das suas camisetas – o que o faz ir no primeiro dia útil a uma loja quase sempre longínqua e passar por toda a pachorrenta liturgia que implica a troca de uma roupa. ou a impossibilidade de deslocar-se pelo calçadão da xv no início de toda a noite do mês de dezembro. (aliás, a existência dos corais, por si só, já é miseravelmente chata. os natalinos, então, quase sempre formados por crianças, vão às raias do insuportável. agora, obrigar-me a ouvi-los porque não existe a possibilidade de correr é praticamente pedir pra eu sair na mão com alguém.) a lista segue e é longa. tem, por exemplo, os jornais televisivos na semana que antecede a data fatídica (“nos shoppings o movimento é grande e quem deixar para ir às compras na última hora pode ficar sem presente”), o especial do roberto carlos, aqueles filmes pentelhos (como “natal na rua sei-lá-das-quantas”...), a missa do galo, panettone com frutas cristalizadas, e por aí vai.
agora, nada é mais constrangedor do que o espírito de natal. e é fato que as pessoas não ficam mais bacanas em dezembro. mas vá lá: suponhamos que, devido ao nascimento do menino jesus, o bush resolva fazer uma pausa no iraque. cessar-fogo em guerra até o pelé já conseguiu – isso não é parâmetro de comparação. e o pelé, apesar dos pesares, não enche minha caixa de e-mails com mensagens a respeito de seu próprio espírito – que geralmente se apresentam com a infausta trilha sonora interpretada pela simone.
eliot disse que abril é o mais cruel dos meses. o desgraçado coronel do garcía márquez tinha problemas nos intestinos em outubro. pergunto-me onde esses caras passavam dezembro. o mais modorrento dos meses, fato.
há uma utilidade – ínfima, mas há –, ao menos: no dia 25 de dezembro você acerta seu estoque de meias para todo o ano seguinte. talvez ganhe umas cuecas também. talvez.