Thursday, May 25, 2006

AUTO-RETRATO

18 anos.

32 dentes.

Nem um pingo de vergonha na cara.

Ateu.

Apolítico.

O filho do meio da história...

Fumante.

Bêbado em potencial a qualquer hora.

Sem objetivo, sem perspectiva, sem nada a perder...

Porque amanhã eu posso ser atropelado por um caminhão

E porque eu não quero morrer ao sol.

...

A espinha dorsal de Jack.

Porque sem mim Jack não anda.

Porque sem mim Jack não vai ao parque.

Porque sem mim Jack não vive.

...

Sem dinheiro.

Sem moral cristã.

Sujo.

A ressaca nua, vadia, sem firulas.

E com tesão suficiente pra esmurrar o mundo por mais uns 30 anos.

...

O prazer é todo seu.

Tuesday, May 23, 2006

Acho que tô precisando de um cursinho intensivo e prático ao estilo “como organizar sua vida.” Alguma moça de telemarketing - daquelas simpáticas que sempre que ligam dão a impressão de ser o amor da sua vida – podia me ligar amanhã oferecendo algum serviço desse tipo. Acho que pela primeira vez na vida não ia ficar chateado com o povo que fica querendo me vender coisas que eu não preciso. E de quebra, numa dessas, podia dar um jeito no puteiro multi-colorido que é ser EU.
Semana retrasada prometi pra mim que semana passada ia dar um jeito em tudo. Saldo: documentos perdidos há dois meses ainda não foram refeitos, catálogos estão pendentes no trabalho – assim como folders, panfletos e o esboço gráfico do site -, outras coisas na faculdade, e eu ainda não fiz a visita ao meu amigão que ta em Ponta Grossa e que eu tinha dito a mim mesmo que ia fazer. Sem contar o livro do Saramago intocado no meio da bagunça de papéis, livros, DVD´s, meias e o diabo a quatro que eu faço no quarto – ainda bem que de vez em quando alguém organiza aquilo, esconde tudo e me faz esquecer de toda essa baderna por uns dois dias.
Tá, semana que vem eu dou um jeito em tudo. E juro: quando mudar pro novo apartamento a primeira coisa que vou fazer é comprar uma estante pros meus livros. Pode ser meio vagabunda, mas eu vou comprar. E também vou começar a pedir de volta aqueles que eu emprestei – em média, há uns nove meses. Alguns vão exigir um trabalho prévio de investigação porque eu já não tenho muito clara a idéia de pra quem foi.
No mais: friozinho e chuva na cabeça. Bem-vindo a Curita. Mas vá lá. Uma boa desculpa pra fazer aquele happy hour. Uísque com o pessoal depois do trampo e conhaque com o velho.
Ah, os Mutantes voltaram. Reza a lenda que ano que vem tem turnê nacional. Deve passar por aqui. Se for no Guaíra – quase certo – vai ser uns 150 conto a meia para o pior lugar. Estou começando a cogitar novamente a idéia de vender o meu baço. Se alguém souber de um ser humano que precise de dois órgão inúteis num mesmo corpo, meu tipo sangüíneo é O+
Quem manda gostar de velharia?

Monday, May 01, 2006

PUNK-DARK-PSICODÉLICO

Primeiro eles vinham. Depois já não vinham mais. E finalmente vinham de novo. Uma turnê toda atrapalhada, mas com uma boa notícia no fim. Os homens-coelho tinham incluído Curitiba no roteiro. Pela segunda vez a banda saída de Liverpool em 1978 colocaria os pés em solo curitibano – a primeira tinha sido em 1999. Meu segundo grande show no ano e, depois dos Stones em fevereiro, eu tinha certeza que poucas coisas ainda poderiam me impressionar. E uma delas era o Echo & The Bunnymen.
A noite prometia muito. O Curitiba Master Hall, embora lotado, não estava entulhado. O Echo pode não ser a banda mais famosa do mundo, mas é um culto. Também não é para menos. Os anos 80 por si só já são sagrados. E então, imagine uma banda que resolve misturar a introspecção dessa década com a psicodelia de outra que não deixa por menos. Não deu outra: criava-se um mito.
O show que era para começar as 22h00, só veio mesmo lá pelas 23h30, quando a maioria do pessoal tinha precisado consumir algumas garrafas da água para assegurar a sobriedade durante a apresentação. E lá estava a figura. Cabelos desgrenhados, óculos escuros, blazer preto, jeans surrado: o vocalista Ian MCculloch e seu visual cool. Uma das figuras mais admiradas e copiadas dos anos 80. Uma das melhores vozes da história do rock. Ao lado dele, Will Sergeant, o culpado por aqueles riffs de guitarra que grudam na sua cabeça e mais parecem uma música dentro da outra. E sim, o que se lê por aí é verdade: ao vivo, ele é a cara do Chucky, o brinquedo assassino. O bom é que o cabelo no rosto esconde isso a maior parte do tempo.
O resto da banda, depois da volta, em 1997 – os caras deram um tempo entre 1998 e 1997, período no qual o antigo baterista, Pete de Freitas, morreu num acidente de carro - não é lá muito relevante. Dão a impressão de meros músicos de apoio. Da formação original só restaram mesmo Ian e Will, uma dobradinha que dificilmente conseguiria ser melhor. E para uma banda que tem esses dois, o resto é conversa fiada.
Quem chegou cedo, conseguiu ficar grudado no palco. E eu não sei se em todos os lugares da casa foi assim, mas para quem estava perto a fumaça cuspida em cima do palco durante mais ou menos 1h40 de show só aumentou a atmosfera de transcendência. Aliás, diga-se de passagem, a idade deve estar pesando em cima dos ombros de MCculloch. O cara - famoso por ser uma chaminé ambulante e por acabar quase todos os seus shows bebaço – fumou e bebeu pouco. Não se sabe porquê, mas seu grande companheiro em suas passagens pelo Brasil – o copo de caipirinha – não deu as caras em cima do palco.
O público era variado. Tiozinhos de 40, 50 anos – fãs das antigas da banda, que acompanharam tudo desde o início, e por isso mesmo nos causavam inveja -, e gente de 16, 18, representantes da nova geração perdida que também adotou gente como Smiths e Joy Division. No meio desse povo todo desfilavam uns sósias do Robert Smith. Ah, temos que dar relevância para o sujeito que invadiu o palco no meio do show, pulando que nem criança quando chega no parque de diversões e apontando alguma coisa que eu não consegui ver no próprio peito. Tudo isso para dar um abraço em Ian, receber um sorriso amarelo em troca e ser enxotado pelos seguranças. Impagável.
O SET-LIST
Enquanto todo mundo acreditava que o Echo ia abrir com a clássica Rescue, que desde sempre abriu as apresentações do grupo, os caras decidiram quebrar a rotina, mandando ver em Going Up, a primeira música do primeiro álbum, de 1981, o que não deixa de ser uma boa pedida, além de carregar um quê de elemento surpresa. A voz de Ian é uma atração a parte. Tudo bem, ela não é a mesma dos anos 80, trovejante e arrastada ao mesmo tempo – talvez o resultado de anos de bebedeira e dois maços de cigarros diários – mas continua única. E como ele sabe que a linguagem da música é universal, não perde tempo com introduções ou discursos entre músicas. No máximo um “thank you”. Lá de vez em quando arrisca um “muito obrigado”. No fim, um agradecimento a participação massiva dos curitibanos fanáticos, que cantavam em coro, acompanhavam as capelas com palmas e sempre que os homens-coelho deixavam o palco entoavam gritos de “Echo, Echo, Echo...”.
O que veio depois de Going Up foi uma sessão de hits. Do novo álbum, o Siberia, do ano passado, só estavam no setlist Storm Weather e Of a Life. O destaque do show? Isso é sacanagem. Como é que se escolhe o destaque de uma apresentação que incluí Seven Seas, Bring On The Dancing Horses, All The Jazz, The Back Of Love, The Killing Moon e The Cutter­? – e põe no balde ainda covers de Roadhouse Blues dos Doors e Take A Walk To The Wild Side do Lou Reed.
Mas eu arrisco. Fico com Never Stop - redonda, perfeita ao vivo -, e para os momentos mais introspectivos do show, com Nothing Lasts Forever – no primeiro biss – e Ocean Rain – que fechou do show de uma maneira surreal. O que faltou? Bom, eu acho que tinha espaço para The Game e Do It Clean – que reza a lenda, é a melhor música do Echo ao vivo.
No fim, do lado de fora, o que se via era uma coleção de caras estupefadas. Todo mundo tentando descrever o quanto aquilo tinha sido indescritível. Na boca, um gosto que misturava bebida e cigarro. Deve ser esse o gosto da glória.

Para saber mais:
Quem influenciou:
rock sessentista, principalmente Doors, Velvet Underground, Stooges e David Bowie.
Quem foi influenciado: bom, o Oasis é um bom exemplo. O Liam Gallager copia Ian MCculloch até na pose de marrento.
O álbum que vc precisa ouvir: Ocean Rain
As músicas que não podem faltar: The Killing Moon, My Kingdom, Bring On The Dancing Horses, Rescue, Cristal Days, Seven Seas, Lips Like Sugar, Never Stop, Do It Clean e The Game.

EDITORIAL

Se tem uma coisa que eu tenho aprendido nos últimos anos, essa coisa é: quando vc leva uma vida com um quê de marginal, só existe uma maneira de escapar das inegáveis acusações de que acaba, invariavelmente, sendo alvo. Acusando-se antes. Pois bem: antes que me denunciem por plágio, eu admito. O nome desse blog é baseado – na verdade, plagiado mesmo – descaradamente do livro de Hunter Thompson: “Rum – Diários de um Jornalista Bêbado”.
Mas não espere das linhas que vc lerá aqui – caso se dê ao trabalho, é claro - uma cópia thompsoniana do gonzo. Até porque isso seria muita pretensão da minha parte. E no mais, não gosto de cópias, embora não tenha nada contra as que são bem feitas. O que será escrito aqui pode soar sujo, descarado, imoral, ou coisa de gente que não tem nada para fazer mesmo. E para aqueles que chegarem a essa conclusão, vai o meu recado: vcs chegaram a mais sublime expressão da verdade. A intenção é essa mesmo. Nada mais do que jogar merda no ventilador.
Se alguém quisesse me traduzir em dois vícios, eles com certeza seriam: minha grande capacidade de me meter em encrenca e a minha maior capacidade ainda em ser do contra, contestar tudo, argumentar e tocar um foda-se para todas as verdades absolutas. Como diria Oscar Wild: “Sempre que alguém acaba por concordar comigo, sinto a senssação de que estou terrivelmente errado”. Se existem coisas na qual eu nunca consegui me enquadrar, essas coisas são dogmas. Até porque, sempre procurei ser um cara aberto a todo tipo de idéia. Nunca descartei nada antes de conhecer. Por isso, nunca pensei duas vezes antes de mudar de opinião ou de postura diante de determinadas coisas, quando julgava isso o correto a ser feito. Mas, nem por isso, sou volúvel ou um cabeça-oca qualquer que troca de idéias da mesma maneira que troca a camiseta. Prefiro pensar que evolui muito, e procuro estar evoluindo sempre.
Bem, como eu já disse, odeio dogmas. Por isso sou ateu, por isso não me filio a nenhum partido político, por isso não sou de direita, de esquerda ou de centro. Por isso, talvez muita gente me ache um pervertido. E é também por isso que odeio que me embutam rótulos. Odeio ser tachado de qualquer coisa que seja porque a única finalidade que existe em um rótulo é a de a te limitar e impedir que vc cresça – em todos os sentidos da palavra. E algumas pessoas ficam tão presas aos rótulos que lhes são atirados ao colo que acabam deixando de aproveitar muitos aspectos de suas vida. Tem gente que fica tão preso a amarra de intelectual que se sente culpado ao sentar na mesa de um desses bares pé sujo, tomar uns tragos e conversar com o seu melhor amigo. Ou que fica tão presa a palavra desregrado que não se admite ler Drummond porque pode acabar virando “um desses nerds CDFs”. E, tanto em um lado, como em outro, essa não é uma coisa que eu queira pra mim.
Não tenho preconceitos, mas também não sou adepto de discursos apaziguadores. Aquele papinho do tipo: “eu não gosto, mas respeito”. Não é comigo. Se eu acho que o negócio é uma merda, é uma merda e pronto. E não existe meio-termo para a merda. Pelo menos até quando consigam me provar o contrário.
E isso é mais ou menos um pouco do que poderá ser visto nesse borrão de tinta virtual. Chame como quiser. Goste ou odeie. Os comentários concordantes serão bem-vindos da mesma maneira daqueles que virão para esculhambar. Assim como a ausência de ambos. Afinal, muitas vezes, o silêncio pode dizer muitas coisas. Embora eu prefira o barulho das coisas indo pelos ares.
Caos e Subversão.