Wednesday, February 20, 2008

O trabalho empobrece o homem...

Porque quem trabalha não tem tempo pra ganhar dinheiro, como já se disse. Taí uma coisa que seria bacana: não precisar trabalhar. Preciso pensar num meio de adquirir rendimentos sem me cansar. O problema é que eu praticamente não sei fazer porra nenhuma. Nem nadar eu sei. A coisa que faço mais razoavelmente (escrever asneiras), só eu conheço pessoalmente uns quatro indivíduos (malditos!) que fazem melhor. Mas, cacete, num mundo onde até xadrez é considerado esporte deve haver alguma atividade em que eu seja regular e que dê uma quantia aceitável de dinheiro, sem muito empenho (“O trabalho liberta” é o tipo do axioma que só enganou mesmo quando foi cravado nos portões de Auschwitz). Pensarei a respeito. Enquanto isso, vão me engolindo aí. Minhas besteiras a um clic de distância, aqui and here. Quem chegar por último é mulher do padre.

Espécies em franca proliferação

Em tempos de Oscar, espécies cinematográficas já catalogadas:

Os indies cinematográficos: Só gostam de cinema europeu, daqueles filmes em que geralmente não acontece coisa alguma. Se for filmado de forma desleixada, melhor ainda. A maioria é fã de Irreversível (filme chato e sem graça), única e exclusivamente porque ele é contado de trás pra frente. Adoram também os roteiros do Arriaga, um mexicano que crê piamente que fazer a coisa de forma dadaístas por si só garante uma boa história. (Alguém aí agüenta ver mais algum roteiro dele depois de Três Enterros? Eu não.) Como já deu pra perceber, pra esse tipo de gente, se for não-linear é bom. A identificação em videolocadoras é fácil: estão sempre futricando nas prateleiras de “arte”, seja lá que diabos essa segmentação signifique. Dos Estados Unidos, só aceitam David Lynch (que é “surrealista”) e do Woody Allen (por causa de suas referência metidas a psicanalíticas). Usualmente, não conseguem passar por qualquer conversa sem citar diretores como Antonioni e Buñuel. E pouco importa se o assunto for, sei lá, marcenaria.

Os cults: Na base, são como os indies, com uma diferença: não fazem pose, realmente gostam de toda essa tralha. Como também gostam de coisas como “cinema iraniano” ou qualquer filme feito em um país onde os índices de IDH estejam a ponto de ter um colapso por inanição. Afaste-se desse tipo de gente o mais rápido possível! Com certeza, você não vai querer essas pessoas na sua mesa de bar. Quem já foi obrigado, por questões de polidez, a assistir a um filme iraniano sabe do que estou falando.

Os nerds: Completos bastardos, raramente vão ao cinema, pois preferem baixar suas adaptações de obras em quadrinhos da internet e assistir no computador. A pequena porcentagem dessa tribo que ainda vai à sala escura é o suficiente para fazer sessões de filmes como X-Men ficarem lotadas por dias a fio a partir da estréia. E quando você finalmente consegue entrar no diacho da sala, é obrigado a ouvir comentários sempre bestas, adolescentes não aceitos socialmente atendendo celulares no meio da sessão, irritantes barulhinhos de pipoca (pipoca devia ser proibida em cinemas. Proibida!), irritantes barulhinhos de embalagens de chocolate e irritantes barulhinhos causados por irritantes risadinhas acionadas por piadinhas não menos irritantes feitas por um sujeito de óculos ainda mais insuportável e metido a humorista do horário nobre. E por aí vai. Se quiser aniquilar um deles em uma conversa, leve a coisa adiante do Homem-Aranha. Tiro e queda.

Os oscarmaníacos: Metidos a bons entendedores, assistem o mais rápido que podem aos cinco indicados na categoria principal e correm pra seus blogs, onde tecem comentários que dizem exatamente o que qualquer idiota com dois neurônios funcionando de forma aceitável já percebeu. São adeptos da tática de guerra de seus ídolos, José Wilker e Rubens Ewald Filho, comentaristas da transmissão do Oscar, que produzem suas pérolas a partir de uma adaptação do modus operandi do Casa Grande e do Falcão: basicamente, repetir aquilo que o espectador acabou de ver. Como Wilker e Ewald Filho, adoram “fazer suas apostas”, sempre condizentes com o senso comum e mais do que provavelmente erradas, assim como divulgar seus preferidos (igualmente de acordo com o gosto da maioria dos críticos). Com esses dá pra se divertir, mas só um pouquinho.

(Se eu tiver saco, continuo qualquer dia.)

Thursday, February 14, 2008

Só pra não passar em branco, trecho de uma história que estou tentando escrever. Um projeto que pretendo levar a cabo com um amigo, assim que conseguir estabelecer alguma ordem em meus dias. Orem por mim. Ou me paguem um drink.

“A voz era áspera e potente, em algum lugar entre o ódio pulsante e o choro pueril. Por que depois de algum tempo todas as mulheres soam como sua mãe? Agora percebia que havia feito a maior besteira de sua vida, e mesmo assim elas estavam certas. Todas elas. Estavam todas certas quando tentaram evitar que ele enfiasse os pés pelas mãos em todas as vezes que ele enfiou os pés pelas mãos em sua vida. Sua mãe estivera certa, quando tentou evitar que ele abandonasse a faculdade quatro anos antes, em uma cena parecida. Mas que diferença fazia? A porra da vida não é uma equação matemática. Encontrar uma variável não te dá uma outra. Algumas pessoas simplesmente não podem dar certo. Era sua amaldiçoada natureza. Como um pato, nadara, andara e voara, e como um pato não conseguira fazer nenhuma das coisas direito. Em seus vinte e cinco anos jogara o jogo da vida tiltado. Recebera mãos boas e arriscara, recebera mãos ruins e arriscara. Se estrepara, naturalmente. As probabilidades não podem ficar do lado de um suicida compulsivo. A matemática é contra a vida. Agora chegara a hora de apostar tudo o que lhe havia restado, numa última tentativa de manter-se na mesa do mundo por mais algumas mãos.

Descobrir que havia entrado em um jogo pra perder, sem saber que cartas faltavam no baralho, levou-o a calma que só o completo desespero dá a um ser humano, um cansaço histérico que o fazia dar risinhos nervosos ao constatar suas próprias desventuras. Com uma leve inclinação de cabeça, concordou com seus próprios pensamentos, com o mesmo ânimo de concordaria com um bombardeio de napalm a um asilo perdido em alguma aldeia miserável da Ásia Central.

Naquela noite saiu de casa sem dizer palavra, com os passos firmes e decididos de quem tomou a inabalável resolução de embriagar-se. Até o amanhecer, bebeu quase um boteco inteiro, e no dia seguinte acordou presa de uma ressaca atroz que o impediu de sair da cama antes das dez da manhã. Acabou demitido, porque aquela era a terceira vez que faltava ao trabalho em uma semana sem nenhuma desculpa plausível que não envolvesse a morte de uma de suas trinta e sete avós.

Deus era, sem sombra de dúvida, um crupiê de mãos rápidas e impiedosas.”