Saturday, January 19, 2008

Este era pra sair na Folha do Boqueirão. Um amigo que trabalha na bagaça me convidou para publicar há semanas, quando eu estava bêbado, num daqueles botecos indies insuportáveis em que você só consegue permanecer algum tempo se estiver com uísque saindo pelas orelhas. Enfim, um mês depois, após esquecer da proposta umas dezoito vezes, aprontei ele na quinta. O número de caracteres aleijou um pouco minhas piadas infames (algo bom, finalmente!). O tema é municipal. Não sei se foi publicado ou não, mas segue aqui:


Uma lembrancinha boba... Nem precisava

Vamos ganhar mais uma praça. Muito da importante, diga-se. Este ano, quando Brasil e Japão comemoram o centenário da imigração japonesa pra estas bandas. Friso: ambos comemoram. Brasileiros comemoram e japoneses, que em cem anos não se deram conta da enrascada em que se meteram, comemoram também.
Curitiba, diz-se, é a segunda colônia brasileira de nikkeis, que ao contrário do que pode pensar o leitor mais desapercebido, não são acionistas da Nike. São, sim, japoneses e descendentes que vivem fora do Japão. Japão que, em matéria de japoneses, anda muito mal servido ultimamente, tantos são os que andam por aqui.
Curitiba, dizia, é a segunda maior colônia de japoneses no Brasil. Perdemos, como já estamos acostumados a perder, pra São Paulo. Os números não são exatos. Chutam uns que por aqui há de 30 a 50 mil mal bronzeados filhos do sol nascente. Doze mil deles constam na lista telefônica, segundo o secretário do Governo Municipal, Rui Hara. Não pude entender exatamente a relevância dessa informação. Entendo, sim, o sofrimento pelo qual deve ter passado o pobre diabo que foi obrigado a contar 12 mil sobrenomes enrolados nas letrinhas miúdas do catálogo telefônico. Um estagiário, muito do possivelmente.
Voltemos. Por ocasião do centenário, comemorações e mais comemorações estão previstas. O príncipe nipônico vem ao Brasil. À Curitiba, não. Por aqui não passarás, nem para ver o presente que daremos aos pacíficos (pois o Japão fica no Pacífico, garante-me o Mapa Mundi) japoneses.
A celebração começa no dia 25 próximo e vai atééé setembro. Lê-se na internet que serão comemorações com eventos japoneses, danças japonesas, feiras japonesas, lançamentos de livros sobre japoneses e comidas esquisitas tipicamente japonesas. Nem uma mísera linhazinha foi escrita, porém, sobre saquê e lutas de sumô. Uma pena.
E sem saquê mesmo, seguirá a disciplinada festa, que só terá sua sobriedade oriental abalada pela entrega do já citado presente. Ei-lo: uma praça, dedicada ao centenário da imigração. Novinha. Nada de recauchutar a boa e velha Praça do Japão. Não! Os japoneses merecem e vamos dar-lhes uma praça nova. Ficar remendando pegaria mal para nós, brasileiros.
Resta saber, agora, o que diabos poderão os japoneses fazer com uma praça.
Bonsais, talvez.

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