Thursday, October 16, 2008

De volta à forma

Quinta-feira é meu dia. Clicaí.

Saturday, October 11, 2008

Pequena crônica sobre o silêncio

Minha família e eu moramos num apartamento minúsculo no centro de Curitiba. São quatro pessoas, de modo que se alguma coisa mais entrar em casa provavelmente seremos obrigados a atirar algo pela janela, a fim de fazer espaço. Num lugar assim, é impossível ficar sozinho, em silêncio. O barulho é perene. A tevê está quase sempre ligada em alto volume, porque meu pai, creio, é um pouco surdo; a máquina de lavar roupas vive um eterno vai-e-vem, num zumbido de trovão; meu irmão é um tagarela que tem verdadeiro temor à possibilidade de não ser ouvido e por isso expressa-se sempre aos berros. Os vizinhos, não sem razão, devem achar que somos malucos; além de tudo, somos uma família dada a rompantes de fúria e de ternura.

Sempre foi assim. Lembro de quando morávamos com minha avó materna, no interior, numa grande casa de madeira que há muito pedia reparos em caráter de urgência. Nas festas de fim de ano, a família se reunia, os filhos vindos de longe – família grande, sete ao todo -, as noras, os filhos dos filhos, os adjuntos; às vezes aquela velha casa ficava uma semana inteira com mais de trinta pessoas sob o teto, uma algazarra, uma balbúrdia, um pandemônio, gente dormindo pelo chão, conversas paralelas que compunham uma massa sonora impenetrável, crianças aos gritos, a gargalhada afetada e em volume máximo de meu avó, um dente de outo a resplandecer. Havia ainda um papagaio, que minha avó garantia ser poliglota mas que na verdade não fazia mais do que gritar papagaíces o dia todo. Se casas pudessem enlouquecer, posso garantir que aquela lá o teria feito.

Acostumei-me assim ao espalhafato, a conviver com um ar de textura tão encrespada quanto a do mar em tempestade; acostumei-me a viver em ambientes de um sossego de guerra, algo como se um conflito marcial tivesse estourado há pouco, agorinha mesmo, não faz nem dois minutos; habituei-me ao barulho constante; habituei-me a fazer tudo com barulho, e posso ler e escrever tranqüilamente em meio a um saloon de bêbados e dança, como aqueles ferozes bares que vemos nos westerns. Acima disso, incomoda-me o silêncio; em meio a ele uma simples torneira pingando é capaz de me levar à loucura.

Acho que descobri por quê.

Escrevi há poucos dias, num texto, que o silêncio, uma substância inextricável, é a sustança da solidão. Uma amiga me chamou a atenção para o trecho. Fiquei com isso na cabeça. Conclui que jamais escrevi algo mais correto.

deus (ou do ateísmo)

não rezo. há tempos. não agradeço a deus pelo copo no bar, pelo álcool balsâmico a viajar pelos músculos e aquietar finalmente a mente; não agradeço a deus pelo pão ou pela carne; nem pelo cheiro de terra depois da chuva, pelos dois ou três amigos realmente leais que fiz, pelo cigarro depois do café puro; não agradeço por graciliano, por quintana, por leone ou por belchior; não louvo a ele pela comida no prato ou pelo sorriso de meu irmão; não agradeço o dia vindouro, o fato de estar vivo ou o canto do sabiá que de vez em quando dá pra piar em minha janela; nem pela rosa, nem pelo cravo, nem pelo doce da ebriedade nas noites sabáticas; nem sequer lembro de deus durante o futebol, durante os beijos ou durante as transas; não agradeço a deus por estar onde estou ou por ter me tornado o que me tornei.

mas sou justo, e se não lhe sou grato, também não o culpo.

não culpo a deus pelas crianças famélicas, pelos dias aziagos, pelos ouvidos de mercador do mundo; aliás, não culpo a deus por o mundo estar nas mãos de meia dúzia de poderosos; não culpo a deus pelos rins perenemente doloridos, pela saúde frágil, pelos braços magros e sem forças; nem ao menos pela promessa de futuro doloroso; não culpo a deus pelo temperamento ruim, pelos vícios que ultrapassam em muito as virtudes, pela solidão; não o culpo por hitler, por bush ou pelas cruzadas ou pela inquisição; não o culpo pela fome, pela peste, pela guerra e pela morte; nem por ratiznger e seus delírios, nem por pio xii, nem por hiroshima; nem ao menos o culpo pelos amigos que morreram, jovens, de infarto fulminante e bebedeira ao volante – um pé pesado no acelerador, uma reta que de repente decidiu virar à esquerda; não culpo a deus pelo nó na garganta dos humilhados que querem chorar mas não conseguem, nem pelo coração acossado dos mal-amados; nem pelo lixo de muitos, nem pelo luxo de poucos; nem pelos sofrimentos de jó, nem pela perversidade gratuita, pela violência sem motivo, pelo mal que galopa livre em um cavalo alado; nem pelo hediondo, nem pelo bruto, nem por nada; não culpo a deus pelos olhos marejados, pela melancolia destes tempos tristes, pelo câncer a roer corpos já minguados; não culpo a deus pelo que me tornei.

não culpo porque não o creio. deus não tem nada a ver com isso. quero crer, sim, em homens bons – aviso quando encontrar um.

Thursday, October 09, 2008

A internet em mãos erradas, hoje é meu dia n'O Diazepam. Vide bula e clicaí.

Sunday, October 05, 2008

TODO-MUNDO-JUNTO-REUNIDO

Se é mesmo verdade que a união faz a força, lá vamos nós: está no ar o blog dos blogs. Refiro-me (com certo exagero, é fato) a O Diazepam, espaço que vou manter com os coleguinhas de Jornalismo. A idéia (oremos a todos os santos) é manter atualizações diárias, um dia da semana sob a responsabilidade de cada um. Também é meio que um desafio pra gente, esse negócio de produzir um texto por semana (por algum motivo que me escapa as pessoas acham que estudantes de Jornalismo sempre precisam ter uma idéia genial para um texto pronta, mas isso, é óbvio, passa longe da verdade...). O time é formado por mim, Fábio e Chico, juntamente com as mulheres que amamos: Amanda, Cioffi, Iasa e Manu. Apareço às quintas – custe o que custar, doa a quem doer.