Wednesday, August 01, 2007

só pra não passar em branco:

não lave as orelhas!

fico, obviamente, impressionado com a grande quantidade de especialistas em tráfego aéreo que têm surgido depois dos já conhecidos problemas envolvendo nossos aparelhos alados. não deveria, porém. convivo quase diariamente com a mais propensa espécie já catalogada para dar opiniões não-embasadas: universitários de jornalismo. de alguma forma a seleção natural proposta por darwin também se aplicada ao mercado: pessoas com pré-disponibilidade genética para o inoportunismo de dar opiniões quando essas não são solicitadas (e o pior, sem terem a mínima idéia do que estão falando) são, naturalmente, fadadas às redações – da mesma forma que seres com a área do cérebro responsável por concluir raciocínios afetada acabam caindo em filosofia, invariavelmente.
começo a duvidar do ditado popular que diz que a ignorância é uma bênção. pode até ser, desde que venha acompanhada de algum distúrbio fonoaudiológico que impossibilite a disseminação da mesma. alguém certa vez disse que a cada minuto nasce um otário no mundo. não seria mau de todo, se de bônus viessem afásicos ou com qualquer outra lesão semelhante nos respectivos centros cerebrais.
acontece que a vontade jornalística de expor argumentos a respeito de determinado assunto é inversamente proporcional ao conhecimento que se tem do mesmo – e geralmente esse último está no setor negativo do plano cartesiano. em quase três anos no meio do fogo cruzado, perdi a conta de quantas vezes vi assuntos ordinários se transformarem em flamejantes discussões entre aspirantes a arautos da sociedade. uma nefasta herança da época em que a classe era considerada intelectual. eu, particularmente, considero o senso prático a maior das qualidades. discussões do tipo “o copo está meio cheio ou meio vazio” só me interessam se isso for ser levado em conta para decidir quem sai pra comprar mais cerveja.
no entanto, a palpitaria desenfreada é reforçada por ícones do cânone jornalístico do horário nobre, como arnaldo jabor (nem só a felicidade é estética, como escreveu o poeta; a competência também pode ser). por isso, sou totalmente a favor da idéia de que se for pra falar asneiras pretensiosamente sérias, conte uma piada. provavelmente você vá acabar entre os tripulantes da turma do didi, mas pelo menos vai passar em um horário em que todo mundo está mais ocupado curando a ressaca de sábado à noite.
ah, os jornalistas! são mesmo hercúleos guerreiros na cruzada em favor da cultura e de um mundo mais justo, cabais defensores da liberdade de expressão (leia-se: do direito de falar abobrinhas com a defesa contra achincalhamentos assegurada por lei).
mas como tudo que já é ruim ainda pode realmente chegar às raias de um filme do woody allen, gurus digitais prevêem que a tecnologia (em mais um exemplo de como pode ser maléfica à humanidade) irá transformar, em breve, cada cidadão em um jornalista em potencial. do auge de meu eterno otimismo, tento vislumbrar algo de bom nisso, como por exemplo, uma eficaz ferramenta de controle de natalidade, já que uma breve navegada de meia hora por blogs e afins deverá ser mais do que o suficiente para explodir uma bolsa escrotal.
recorro a hunter thompson pra concluir a ópera: “quando as coisas ficam bizarras, os bizarros viram profissionais”. vê só o que a simbiose entre acidentes do destino e um belo plano de carreira pode fazer por pessoas sem auto-crítica?