Tuesday, November 21, 2006

Se eu sou revoltado? Não. Acho que sou só um descrente. Não dá pra acreditar num mundo desses. É como o José Saramago disse há alguns dias numa entrevista: “Não. Eu não quero morrer. Não que o mundo seja o melhor lugar pra se viver. O mundo não é um lugar bonito. Mas não quero morrer, porque sei que do outro lado não há nada”.
Eu não acredito no mundo e nem em toda a porra que ele vive nos querendo enfiar goela abaixo – com trocadilho, por favor, é exatamente esse o sentido da coisa. Como sonhos, por exemplo. Eu não tenho sonhos, tenho desejos. Algo muito mais palpável e carnal. É como despir o amor de todo o seu onirismo. Sobra o tesão. Sem xaropada, sem devaneios, só o imediato, só o que sangra. Tudo o que ultrapassa isso, que foge disso, fode a sua vida.
Eu já procurei espiritualidade em tudo quanto foi lugar: terreiros de Candomblé, centros espíritas, retiros budistas, igrejas evangélicas, catolicismo... Não encontrei. Sou ateu, não me enquadro em religiões. Como nunca me enquadrei em nada. Já tentei ser uma porrada de coisas. Já tentei ser aceito. Punk, dark - daqueles que pintava às unhas escondido do pai pra ir pra balada hahaha... Hoje eu não dou a mínima. Só que isso não configura um rebeldezinho sem causa. Pelo menos eu acho que não. Configura a descrença.
É, às vezes nem eu entendo. Mas “qualquer criança com o mínimo de sensibilidade é capaz de entender isso”, já dizia Morrissey.
Eu sou um ser impulsivo, do tipo que não mede conseqüências e vive entrando em encrencas colossais. Do tipo que gasta mais do que tem e é obrigado a fazer horas e horas de extras no trampo pra equilibrar as contas. Do tipo que bebe até cair – literalmente – e no outro dia não sabe como chegou em casa. O que isso faz de mim? Não sei. Faz com que seja eu. A sensibilidade em estado bruto. Com porrada, sem dinheiro, bêbado – do tipo que abre caminho no peito. Um ser sujo, que não se encaixa na maioria dos conceitos imbecis de ética. Não é culpa deles. Esse mérito é todo meu, que cago e ando pra ortodoxia, para os dogmas e pra o que já me é servido pré-estabelecido. Por isso sou criticado tanto pelos engomadinhos, quanto pelos caras que se acham viajandões. Não dou a mínima. Até gosto. É propaganda gratuita. E as marcas de cigarros nos meus braços denunciam o que sou.
Sou um animal irracional, como me disseram esses dias antes de me darem um chute. E gosto. Pelo menos vou ter histórias pra contar aos meus netos, que nem naquele comercial de cerveja – aliás, nada poderia vir mais a calhar.

2 Comments:

At 1:31 PM, Anonymous Anonymous said...

Não te entendo, e posso dizer que nem te conheço o suficiente para te entender. Não faria a metade das coisas que você faz, não porque não sou capaz, mas porque não quero.Porém, as vezes admiro a sua liberdade, o seu foda-se e isso que você é, ou que você me passa, que não é só de um ser revoltado, como você coloca, descrente combina mais. Que tem algo de fascinante e talvez estranho (para mim), nessa coisa impulsiva de estar pouco se fodendo para o hoje e mais ainda para os netos. O que eu sei, é que você terá muito o que contar para eles...

 
At 3:37 PM, Anonymous Anonymous said...

Se você encontrar esse sublemento da Época me avise, coloque aqui no blog se preferir, mas por favor, me avise.

 

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