Monday, October 02, 2006

Continuando a sessão "textos que saíram em zine" (esse último tá também num outro blog que eu tenho com uma amiga, ou melhor, tentei ter, porque ele empacou em três posts e ficou por isso mesmo - mas, por descarrego de consciência, lá vai: www.checkup06.blogspot.com).

RAMONERA ENDIABRADA DA PORRA!

Todo mundo tem uma banda que mudou sua vida – ou pelo menos deveria ter, porque todo mundo deveria entender um pouco de cultura pop. A minha eu conheci a uns seis ou sete anos, apresentada por um amigo meio delinqüente que me entregou uma fita cassete toda chiada com uma salada que ia de Raul Seixas a Pink Floyd. Grudado no cassete tinha uma fita crepe branca que trazia escrito em vermelho: RAMONES.
Não dei muito crédito pra tal fita. Afinal, que diabos os caras queriam dizer com Ramones. Isso nem tinha tradução. Pô, eles só podiam ser alguma bandinha universitária que inspirou o nome em alguma frase daqueles artistazinhos viajandões metidos a abstratos.
Por uma dessas variações de humor que nem Deus nem o Diabo explicam, quis o destino que certo dia eu decidisse colocar a fita pra tocar. Ela abria com cinco músicas daqueles quatro porra-loucas de Nova York, entre elas o “hit” (?), hino de 11 entre 10 punks de meia dúzia de músicas, Blitzkrieg Bop. Mas a que me chapou o coco de verdade foi a chapada (perdoem a redundância, foi inevitável...) Now I Wanna Sniff Some Glue. A partir daí, eu também passaria a medir o tempo em one, two, tree, four.
Porque os Ramones tem de sobra - coisa que nem ladrão termina – algo que já é difícil encontrar na medida certa em alguma banda. Eles tem energia. Energia e força de vontade. Porque a história dos Ramones é a história de dois marginais, um garoto feio com complexo de inferioridade e um “Zé ninguém” que, mesmo mal sabendo segurar os instrumentos, resolveram pôr um fim na viadagem que o rock tinha virado àquela altura do campeonato. Acabaram revolucionando a música pop e, de quebra, plantando a semente do punk que estouraria na Inglaterra largando estilhaços pra tudo quanto era lado.
E daí que muita gente acha a música deles mal feita? E daí que eles falam em cheirar cola, em ser sedado, em garotos de programa e em cemitérios malditos? O fato é: mesmo que você goste do Simple Plan e nunca tenha ouvido falar dos Ramones, você deve aqueles a estes – não, não culpem Joey e cia., eles não tinham como prever. E num tempo em que o rock era feito só de megastars com jatinhos particulares e shows megalomaníacos, os caras mostraram para um monte de moleques que eles não precisavam saber um monte de técnicas, solos ou viradas de bateria. Era só ir lá e tocar. Mais simples do que parece. E foi assim que surgiram Clash, Pistols, Damned entre um porrada de outras bandas que influenciaram de Joy Divison à Pear Jam e U2.
Foi com os Ramones que eu percebi que, porra, as coisas não eram tão difíceis quanto pareciam. Foi através de Joey, Johnny, Dee Dee e Marky – a formação clássica -, que eu entrei em contato com uma porrada de outros tipos de som, foi com eles que eu conheci a literatura dos anos 50 e foi em grande parte por causa deles que eu me interessei por cultura pop e decidi ser jornalista – mesmo que isso signifique ser um fodido também.E eu posso estar na fase que estiver, glam, dark, anos 50, ou seja lá o que for, os Ramones estão sempre misturados na minha playlist. É por isso que agora, enquanto Poison Heart rola, eu presto meu tributo aos quatro porras-louca de Nova York que mudaram minha vida.

(escrito por ocasião do show do Marky em Curitiba)

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