Sunday, November 19, 2006

QUEM É VIVO...

Tentando retomar as atividades por aqui. Aí embaixo vou postar o texto de uma entrevista que eu fiz com o Hermeto Pascoal - já falei com esse cara genial duas vezes, pena que tive que condensar tudo em 5200 caracteres (coisas muito boas ficaram de fora, infelizmente). O texto também vai sair - mas daí com os cortes e sugestões da editora - no jornal laboratório de Jornalismo da UFPR. Só que como ninguém lê aquela porra, a não ser nos mesmos, resolvi pôr aqui. Sim, aqui eu podia acrescentar todo o resto de interessante que ele disse, mas na real estou sem saco. São quase 4 horas da manhã e fazem quatro noites que durmo mal pra caralho. Vai ter que ser assim mesmo. Mas relaxem, acho que - modéstia à parte - condensei o negócio de uma forma bacana. Resta saber se vai passar pelo crivo do tal jornal. Afinal, a auto-censura impera por lá.


O bruxo de Curitiba
Hermeto Pascoal, o homem que já levou porcos para gravar em um estúdio, fala sobre
“Música Universal”, sua parceria com Miles Davis e, é claro, Curitiba


Cabelos longos, barba espessa, ambos brancos. Um físico que não é lá muito atlético e, para complementar o visual, óculos ao melhor estilo “fundo de garrafa”. Poderia ser a descrição do Papai Noel, mas não é. Também não é nenhum dos personagens da trilogia O Senhor dos Anéis. Apesar disso, muitos o chamam de bruxo, mago, prodígio. Trata-se do multinstrumentista Hermeto Pascoal, um alagoano conhecido internacionalmente, famoso por arrancar música de tudo: panelas, chaleiras, bacias d’água, máquinas de costura, patinhos de borracha e até mesmo porcos! O segredo? “A música está em tudo”, diz ele. “Você só tem que parar e ouvir. Porque a bichinha está ali, esperando que alguém a descubra”. Uma citação à la Keith Richards, mas que nesse caso provavelmente não configure plágio, apenas uma coincidência.
E é assim que Hermeto vem, há décadas, impressionando adeptos da música instrumental. Sua mais nova investida é a parceria com a “patroa” Aline Morena, uma música gaúcha de 26 anos que encontrou em um de seus muitos espetáculos e acabou “tomando por namorada”. Os dois mudaram há três anos e meio para Curitiba e fazem juntos a turnê Chimarrão com Rapadura – uma referência as suas respectivas origens. A turnê é baseada em CD e DVD produzidos independentemente e que, apesar de já terem passado por boa parte da América do Sul, ainda não foram lançados na capital paranaense.
Nessa entrevista, feita por e-mail, Hermeto fala, entre outras coisas, de “Música Universal”, da cena curitibana, de sua parceria com Miles Daves e da vez em que levou porcos para um estúdio americano.

Jorlab: Você é considerado um gênio, um mago, um bruxo da música. Multinstrumentista famoso por harmonizar qualquer coisa. Mas como é esse processo?
Hermeto: São coisas da natureza e da intuição. Eu faço isso desde pequenininho. Sempre percebi o som de tudo. Quando as pessoas falavam com a minha mãe, eu dizia pra ela: "Olha, ela está cantando!" Ela estava conversando, mas eu conseguia perceber as alturas das falas das pessoas. Não sabia que eram notas! Meu avô era ferreiro e eu aproveitava todos os ferrinhos, restos de penicos, e tocava neles, criando melodias a partir daqueles sons. Também tocava flautinhas de bambu, de talo e de mamona para os passarinhos.
Jorlab: E como é a história de levar porcos do Brasil para um estúdio nos Estados Unidos? É verdade que te barraram aqui por causa dos bichos?
Hermeto: Isso é lenda! Pra quê eu iria levar porcos para os EUA, se lá já tem? Gravei sim com dois porquinhos do Texas, tão cheirosos e bem tratados que as crianças, que eram donas, ficaram com medo que eu fosse bater neles. Mas não, apenas extraí o som. É só pegar neles que eles já gritam!
Jorlab: Você gravou com Miles Davis (famoso trompetista de vanguarda do jazz, que morreu em 1991). Como foi isso? Reza a lenda que ele era seu fã.
Hermeto: Foi um presente de Deus eu me encontrar com o músico e a pessoa maravilhosa que ele era. Uma vez um radialista da França perguntou como ele gostaria de voltar pra Terra se pudesse escolher? E ele respondeu: ‘Eu gostaria de ser um músico como o albino brasileiro Hermeto Pascoal’. E eu só não divulguei isso antes para não dizerem que eu queria aparecer. Mas as pessoas me perguntavam muito: ‘E então, Hermeto, você tocou com o Miles Davis?’ E eu respondia: ‘Sim, ele também tocou comigo!’
Jorlab: Quais são os outros músicos de repercussão internacional com quem você já gravou?
Hermeto: Gravei com Sérgio Mendes e Ron Carter, ambos a convite meu, para tocarem os meus arranjos. O único que me convidou para gravar com ele foi o Miles Davis.
Jorlab: No meio “cult” você é considerado um dos maiores músicos da atualidade. Mas que música você ouve em casa? Há preferência por algum estilo?
Hermeto: Só ouço mesmo os sons naturais: motor de carro, ralo de torneira, passarinhos. Eu ouço muito mais a minha intuição. Mas sempre que os músicos me mandam seus discos eu ouço algumas faixas para dar meu parecer quando eles pedem.
Jorlab: E o que o você acha que o leva a ter tanto sucesso, principalmente no exterior?
Hermeto: É o respeito que eu tenho pelo público do mundo inteiro, fazendo música Universal. Música sem preconceito e com várias tendências, aliadas ao bom gosto. Contemplo tudo o que é bom. Então, em qualquer lugar onde toco as pessoas se identificam com esse som. E cada vez eu fico mais fascinado com o público de todos os lugares. O público é a razão de minha música!
Jorlab: Hermeto, você é um músico inovador, de vanguarda. Como encara aqueles que dizem que "em termos de música, o novo já nasce velho"?
Hermeto: Quem diz isso nem nasceu. Ou morreu e esqueceu de deitar! Nós viemos para a Terra para criar, evoluir e percebemos isso cada vez mais. Cada dia é diferente! Cada ar, cada nuvem, cada pedra, cada dedo...
Jorlab: E como é "pegar uma coisa do nada e criar sobre o nada", como você declarou em uma outra entrevista?
Hermeto: Isso funciona com a energia que a gente tem. Através do olhar, passamos uma energia e aquilo que não existe passa a existir. Isso depende muito da percepção de cada um. E eu tenho muita facilidade. Nasci com esse dom. É como beber água para mim.
Jorlab: E o que você acha da cena musical de Curitiba?
Hermeto: Eu mudei para Curitiba há três anos e meio, por causa de Deus e de uma gaúcha que eu conheci em Londrina: Aline Morena! Estamos juntos há 4 anos no amor e no som! Recentemente fizemos um CD e um DVD chamado Chimarrão com Rapadura. É a primeira vez que formo um duo e estou muito feliz. Sempre toquei em Curitiba. O público aqui é como em todos os lugares, sempre maravilhoso! Porque a Música Universal não escolhe público, o público sim é que escolhe a Música Universal! Estou querendo lançar esse último CD e DVD também em Curitiba. Já estivemos na Argentina, Uruguai, Equador, São Paulo, Rio... está faltando Curitiba!

2 Comments:

At 7:32 AM, Anonymous Anonymous said...

Demorou para postar denovo hein? Achei que você tinha largado o seu blog de vez.
Gostei da sua volta, adorei a entrevista com o Hermeto Pascoal, nunca fui em um show dele, mas começa a me dar vontade de ir. Adorei a matéria! Como você vai fazer para sair no Jorlab? Não são só matérias sobre coisas que acontecem na universidade? Bom...de qualquer forma, ela está maravilhosa! Você apavora tudo escrevendo! E o Hermeto apavora tudo na entrevista! Acho que é isso, só dei uma passada mesmo, meio sem esperanças de encontrar alguma coisa, mas valeu a pena passar...

 
At 7:33 AM, Anonymous Anonymous said...

Ah sim...espero que você durma bem! Insonia é foda...

 

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