Sunday, September 10, 2006

EU AINDA SOU MAIS EU

Não sou democrata, pelo simples fato de a democracia não ser funcional – de alguma forma as coisas em que todo mundo mete o bedelho nunca funcionam. Por isso, não sou nenhum entusiasta das eleições. Essa lenga-lenga toda de que é importante participar sempre me caiu nos tímpanos como uma música do The Cure – pura cascata. E como já dizia Bukowski: a diferença entre democracia e autoritarismo é que nesse último você não precisa perder tempo com eleições.
Já tive meu tempo de “engajado”, por assim dizer. Já boicotei a Coca-Cola e venerei o Che Guevara. Parei com tudo quando descobri que o Che era mais pop que o Suede, que Lênin era um Hitler criado a ponta-pés e que em toda democracia existe um dedo – na verdade, um punho – a lá Pinochet, formado por czares surgidos dos meandros burocráticos que começam no Bush e terminam em um síndico de prédio qualquer, passando por instituições públicas falidas, Malufs, e intelectuais de botequim metidos à besta – nada contra os botequins, óbvio, só contra os intelectuais. Tudo e todos fazendo auto-promoção disfarçada na pelezinha vagabunda da representação.
Há algumas semanas eu li um texto do Arnaldo Branco – reparem, não é o Jabor! - que dizia que o que realmente conta é todo mundo tentar fazer seu trabalho da melhor maneira possível num mundo irremediavelmente corrupto. O velho clichê do “a mudança começa por você” numa roupagem inédita, bem mais agradável aos meus olhos. A mudança começa por você, mas isso não significa que você tenha que sair na rua como um outdoor ou gritando palavras de ordem – não significa que você precisa bancar o idiota. No mais, não confio na corja dos indignados, dos que saem por aí bradando em passeatas e palanques discursos prontos na estirpe de “política alternativa”. Pra mim, são só filhos bastardos da classe média atrás de auto-promoção, disparando esse papinho engajado pra ver se cola e numa dessas pegam alguém.
Atirar esperanças SUAS em mãos alheias me parece tão ingênuo e inútil quanto tentar convencer a torneira da sua cozinha a parar de dar água e começar a cuspir petróleo. E, convenhamos, existe uma tênue linha que separa a ingenuidade da burrice.
Em tempo: eu não voto e, apesar de ter crises constantes de insônia, não é isso que me faz perder o sono. Conservo certa dignidade. Não faço papel de moleque de recados.

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