Monday, September 08, 2008

Quem vez por outra dá com os olhos por estes sítios sabe que não costumo postar por aqui coisas alheias. Abro uma exceção agora. Fausto Wolff, espécie de Robert Altman do jornalismo, e daqui, das bandas do Brasil, morreu. Vai fazer falta, ainda mais em épocas em que o Diogo Mainardi e o Arnaldo Jabor são os ídolos intelectuais da classe média. Vai fazer falta o cara que teve a audácia de dizer que o jornalismo deve ser parcial, deve estar do lado do povo. Agora, de memória, o único que lembro de também ter dito algo semelhante é Robert Fisk – mas ele é gringo. É, o time vai mal...
Sem mais delongas, vai o lobo, ficam os uivos:

Fausto Wolff: Verdade


Como eu ia dizendo aqui no JB antes de ser rudemente interrompido por 20 anos de ditadura militar e 20 de ditadura branca, talvez ainda haja salvação para o Brasil. Neste meio tempo, para ficar apenas no fundamental, acabaram com a nossa cultura, o nosso futebol e a nossa imprensa. O povo, principalmente o carioca, sempre tão gentil, emburreceu, a classe média vive tão desesperada em sua ânsia de não descer ao inferno do proletariado que não tem tempo para outra coisa além do pobre umbigo. O último estadista, Leonel Brizola - tinha um dedo podre para escolher parceiros mas era um homem de bem - morreu. Em seu vício pelo vício de fazer dinheiro, a televisão agoniza enquanto mostra os seres humanos como se fossem porcos em programas ao estilo de Big Brother que torturam Orwell até depois de morto. O país tem solução? Tem e precisa ser drástica, se não quisermos que, desesperado pela dor da fome, o povo desça e o resto dance. O jornalismo pode ser uma solução. Outro dia perguntaram-me se era possível voltar a fazer do JB o melhor jornal do Brasil. Respondi que sim por dois motivos: primeiro, por causa do insípido e medíocre panorama da nossa imprensa; segundo, se recolocarmos a mocinha, a heroína, a estrela, no centro do palco. Estou me referindo à verdade. O erro dos que se propõem a entrar no ramo é imitar as grandes corporações, que só têm compromisso com o lucro e desabam sobre seu próprio peso, enquanto a maioria dos seus colunistas fala de uma vida que não viveu. Em princípio o jornal é o advogado do povo. É o advogado daquele que tem dinheiro para comprar jornal e não para comprar advogado. Os bandidos têm medo dos jornais, pois podem ser desmascarados por eles. A não ser, é claro, que os jornais sejam sócios dos bandidos, quer os privados quer os da Justiça, do Executivo e do Legislativo. O povo precisa sentir que o jornal é parcial; que está do seu lado; que não trata caricaturas de seres humanos que navegam em naves de papelão como pessoas sérias; que o jornal não admite justiça sem força e força sem justiça. Para começar, por que não dizer a verdade? Severino, o presidente da Câmara, não é uma bizarra exceção. Exceção são os não Severinos. Severino apenas faz escancaradamente o que os senhores pomposos, elegantes e bem falantes - do poder ou não - fazem às escondidas. É isso aí. O Brasil não tem mais a cara de Carmem Miranda, mas sim a cara do Severino, que ri dos que dele riem, pois a cumplicidade é óbvia demais. Como na peça de Ionesco, tornamo-nos uma nação de rinocerontes exatamente porque não temos coragem de nos reconhecermos rinocerontes. No Brasil encenam uma realidade para encobrir a verdade e a verdade está na nossa bandeira. O verde representa os que vivem com menos de dez reais por mês; o amarelo, os que vivem com menos de cem; o azul, os que vivem com menos de mil. E os pontos brancos são os tiranos que sendo tão poucos nos esmagam com tamanha facilidade.


Tem mais Wolff aqui, a quem interessar possa.

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