Thursday, August 07, 2008

cronicando o incronicável (ou tentando, ao menos):

NEM TUDO QUE RELUZ É OURO

Não será fácil. São nações e mais nações brigando pelo lugar mais alto no pódio; são atletas e mais atletas, todos de disciplina espartana e preparação irrepreensível; serão histórias e mais histórias de superação, de homens que ultrapassam os limites do próprio homem; haverá lágrimas, haverá riso e haverá, não raro, os dois juntos, confundindo o pobre diabo do telespectador mais desapercebido; haverá erros, um tombo, uma falha, o atleta que vê, numa fração de segundo, anos de preparação indo ralo abaixo. Não será fácil, repito, mas creio que sobreviverei à chatice da transmissão televisiva de mais esta Olimpíada.
Os chineses vêm com tudo e prometem não dar trégua. Nem São Pedro fará chover neste piquenique. Leio nos jornais (aliás, por que diabos ainda leio jornais?) que o governo chinês montou um aparato de guerra (guerra!), com mísseis e parafernália tecnológica de última geração para, os deuses que experimentem!, mandar para o raio que a parta qualquer nuvem que se meta à besta e resolva chover durante algum importante acontecimento olímpico. Se a maldita nuvem escura despontar no horizonte lá irão os chineses, sem dó nem piedade, meter bala. As bombas, os mísseis, ou sei lá o que tramaram esses chineses, são de iodeto de prata, e devem acelerar a precipitação da água. Ou seja: eles irão meter chumbo e fazê-la chover lá longe, antes que a nuvem inconveniente possa causar qualquer dano maior ao espetáculo.
Nada vai estragar a festa. É a maior Olimpíada de todos os tempos, alardeiam meus amigos jornalistas, que sempre adoram alardear algo como o-maior-de-todos-os-tempos (hummm) para ludibriar o leitor mais desatento. Enfim, a China investiu e investiu pesado nesta comunhão planetária. Por um mês quase todo o mundo estará unido, focado, um só objetivo. Não, não. Minto. O mundo não estará unido coisíssima alguma. A China continuará lá, onde a sensatez geográfica indica ser o lugar dela e o resto do mundo estará por aí, esparramado, como sempre esteve, e esperamos que continue estando. Mas, corrijo-me agora, estarão lá na China atletas e mais atletas de todo o globo, sôfregos após a linha de chegada, botando os bofes para fora por esportes muitas vezes, digamos, hum, constrangedores – a marcha atlética, por exemplo.
E a China quer aproveitar que joga em casa para ganhar tudo, acabar com essa tal soberania americana. Não duvido. Nos esportes coletivos será sopa no mel, já que eles poderão renovar a equipe sempre que bem entenderem, à altura do jogo que quiserem, com quantas substituições lhes der na lata. Afinal, chinês é tudo igual mesmo. Ninguém vai notar. Conhecemos os chineses, não conhecemos? Não, não conhecemos. Nem adianta fingir que conhecemos. Seremos enganados. Ponto.
De minha parte, não vou assistir às Olimpíadas. Que me importam as Olimpíadas? Sou um sujeito chucro e não me interesso por nada que não seja futebol, cerveja, mulher e rock’n roll. Ficarei por aí, zanzando pelos botequins, falando mal do governo, andando cabisbaixo, contando os passos, com meus pensamentos – em suma, o que faço sempre. Verei apenas os jogos da Seleção para, é claro, ter argumentos suficientes para exigir a saída do Dunga num papo de bar qualquer – Seleção sem rumo, sem pegada, um monte de volantes sem serventia, já se viu? Vez por outra, porém, sei que serei pego desprevenido pela divulgação televisiva do quadro de medalhas. Se a China conseguirá ou não ganhar a contenda, não sei. Sei que depois de passado o período olímpico tudo deve voltar ao normal, dentro do grau de normalidade a que estamos acostumados neste mundo, naturalmente. Haverá monges tibetanos ateando fogo a si mesmos, partidos xenófobos assumindo o poder na Europa, ditadores promovendo genocídios na África, pessoas atirando crianças de janelas, a chateação das eleições e etc. Arre! Falta de espírito olímpico!

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