Thursday, May 15, 2008

Tolices de maio

Sim. É um mundo tolo. Inclusive em maio. Maio é um mês tolo – igualzinho aos outros 11. Maio é mês das noivas. É casamento que não acaba mais. É uma casamentarada sem propósito. E casamentos são, em grande parte, tolos – com a possível exceção da comida e da bebida grátis.
Acho que só fui a um casamento em toda a minha vida. E a uma missa de corpo-presente. O que, no fim das contas, não significa coisíssima alguma. Sinto-me inspirado a dizer que os dois tinham cara de funeral. Em ambos há choro, seja da família da noiva ou do noivo, que vão perder agora a companhia do filho ou filha, seja pelo presunto em questão, que agora não fará mais companhia a ninguém, de qualquer forma. Ambos têm padres fazendo discursos sobre o passado repleto de louros e de dignidade, seja da noiva ou do noivo, seja do sujeito que acabou de abotoar o paletó. E ambos têm piadas (aliás, funerais são os lugares mais indicados pra quem quer fazer um upgrade de seu repertório de gracinhas). Talvez em funerais não beba-se tanta cerveja quanto em casamentos – o que, apesar de ser um ponto a favor deste, também não o salva de todo.
E eu não gosto de igrejas. Fujo de igrejas como fugiria um vampiro. De vampiros, a bem da verdade, eu até gosto. Filmes de vampiros. Séries de vampiros. Vampiros são descolados, têm sempre seus 200 anos, sempre também com seus sobretudos negros a farfalhar no alto de prédios em madrugadas gélidas abundantemente iluminadas pela lua.
Mas estou fugindo do assunto, tal qual vampiros fugiriam de igrejas, cabeças de alho e estacas de madeira. Melhor encarar de frente o problema: não gosto, portanto, de casamentos. Muito menos quando meus amigos estão se casando. Quando seus amigos começam a casar é porque as coisas estão indo de mal a terrivelmente pior. Nada mais de peregrinações noturnas, de bar em bar, até de manhã cedo. Nada mais de conversas intermináveis que varam a madrugada. Nada mais de xingamentos em uníssono aos juízes dos jogos do Corinthians... Acabou-se. O homem casou. Já era. Perdeu, play.
Um amigo meu casou-se há pouco tempo. Não foi um cerimônia convencional. Nada de cerimônia, aliás. Nada de roupas sociais ou de alguma necessidade de eu pentear minhas desgrenhadas gadelhas. Pra minha sorte, nada de igrejas. O casamento foi um acordo. Juntaram os trapos e ponto.
Meu amigo havia acabado de voltar de Londres, onde, garantiu-me, bebe-se demais, a despeito do exorbitante preço das bebidas.
- Sandoca, lá a gente era capaz de ficar com dívida pra vida inteira.
Lá, continuou, todos, homens e mulheres, saem do trabalho às 17 horas e correm para os pubs, onde ficam drenando litros de cerveja até às 23 horas, quando os estabelecimentos são por lei obrigados a fechar as portas. Depois fica-se vomitando pelas calçadas. Ou, como já estão todos alegres e fáceis, transando-se em apartamentos alugados.
Mas deixemos Londres lá com os ingleses, que em Londres ingleses há aos montes. Bem em cima de Greenwich, que é onde a sensatez geográfica diz que ela deve ficar. Voltemos ao casamento.
Alguns amigos em comum organizaram uma pequena despedida. Assinamos o epitáfio do noivo. (Um a zero pro casamento. É uma batalha perdida.) Resignei-me. Lá pelas tantas, lembrei do show dos Stones, em 2006, em Copacabana. Nós e a parafernália toda berrando Jumpin Jack Flash no maior volume possível.
Bons tempos.

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