Thursday, August 17, 2006

Ode ao fumo – só que sem "o filtro" do lirismo...

A única coisa chata de ser fumante – além de um posterior câncer de garganta, é claro, mas com essa idéia eu já me acostumei – é ter que aturar a geração saúde – que, por azar, é justamente a sua – tentando salvar sua vida. Hoje de manhã eu estava preparando o meu saco para mais uma daquelas aulas sobre a teoria da história mal resolvida de Gutemberg e os novos salva-mundo, quando acendi um cigarro. Logo aparece alguém dizendo: “Isso faz mal!” E é nessas horas que eu penso: porra, que diabos esses caras estão fazendo num curso de Comunicação Social. Deviam estar fazendo Nutrição, Direito, Decoração, Engenharia Madeireira ou qualquer um desses cursinhos cheios de frescura em que o mais importante é ter uma boa imagem e uma cabeça voltada para a erudição da arte de coçar o saco.
Devia ser bem mais divertido ser jornalista – ou até mesmo só querer ser – no tempo do Tarso de Castro e do Jaguar, em que os caras enchiam a cara, morriam de cirrose, riam da própria desgraça – quem dirá da alheia - e não tinham o menor compromisso com a ordem estabelecida. Hoje os jornalistas e seus protótipos – que já vem também pré-indignados, e eles nem mesmo sabem direito com o quê - malham, fazem questão de dormir oito horas por dia, comem alface, escrevem sempre a mesma encheção de linguiça, se preocupam com leads e deadlines... – e o que é ainda pior: são de Direita e idolatram o Jabor!
Eu acho que o fato de o cara ser ou não fumante tinha que ser requisito para quem quer entrar no curso de Jornalismo – alô, Ministério da Educação!. Se não isso, devia ter pelo menos uma matéria logo no início da bagaça que ensinasse esses caras a fumar e a parar de encher o saco alheio. (“Você sabia que o Estado da Califórnia reconheceu a fumaça do cigarro como um poluente da camada de ozônio.” Pra falar a verdade, não. Não leio jornal.)
Voltando ao início, às ganas. Estou tentando cultivar em paz – e com precisão cirúrgica – o meu tumor. Por favor, me agradeçam por isso. Eu não consumo nicotina paraguaia e gero milhares de empregos. Deviam me agradecer por isso!
E como diria Mário Quintana: “Desconfie daqueles que não fumam. Essas pessoas não tem coração, não tem sentimentos. Fumar é uma maneira disfarçada de suspirar.”
Agora, que os dois leitores desse blog me dêem licença, mas preciso sair pra um cigarro...

2 Comments:

At 3:15 PM, Blogger Unknown said...

Adorei o texto, do desenvolvimento, a conclusão (ou deveria dizer "arte final"?)

O mais curioso da "geração saúde" (que melhor caberia chamar de "geração dos hipocondríacos") é que a sua bandeira é sempre as avessas. Explico:

Se eles são contra o cigarro porque faz mal, deveriam também ser contra os carros (que só na capital paulista matam 10 por dia), contra a carne bovina e aviária (cujo colesterol mata umas 3 vezes mais que o cigarro), contra o celular (cuja bateria é lixo radiativo), e contra um infinidade de coisas que afetam a própria vida e a do planeta.

Mas, não, eles decidem o que é ou ruim para si ou o resto do mundo ao gosto do freguês (e da moda da geração), invariavelmente selecionando como ruim precisamente o que não é bom para eles, pois não seria conveniente se despedir do próprio carro, do celular, do chocolatinho que causa diabetes, ou do churrasco na casa dos tios.

Valha-me deus, tamanha a hipocrisia destes discarados!

 
At 1:29 PM, Anonymous Anonymous said...

Acabei de achar seu texto...
Caiu como uma luva, numa discussão no Facebook.
Obrigada.
xxx

 

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