Sunday, September 09, 2007

CONTRA TUDO E CONTRA TODOS FUTEBOL CLUBE

farpas a esmo, novamente:

Ah, eu também cansei!

Diz-se por aí que o brasileiro é o povo mais feliz do mundo. De minha parte, não sei de ciência certa como funcionam os cálculos da Escala Bozo, mas não duvido que noruegueses e suecos, por exemplo, com seus afrontosos IDH’s, tenham mesmo muito menos motivos para estampar um sorriso alvo no rosto. Brasileiro, de fato, ri de tudo, o que explica o fato do Miguel Falabella ter se tornado roteirista de programas de humor.
Mas a felicidade nata não é nosso único dom. Também somos bons em arrumar passatempos – algo realmente imprescindível se você levar em conta a inóspita quantidade de feriados pachorrentos. De arremesso de ovos em transeuntes (o que incluí o desenvolvimento de uma complexa técnica para apodrece-los – tem, realmente, gente desperdiçando seu talento na tevê) a joguinhos de detetives para descobrir quem matou a Taís.
Um dos esportes preferidos da nação, porém, é vociferar contra adversários políticos. Algo que, na medida do possível, também condiz com nossa reputação pacifista e tolerante (palavras não matam ninguém, mas com uma das modalidades preferidas dos americanos – tiros em universidades – já não é bem assim...)
Voltando ao Brasil, o interessante no jogo político nacional é perceber que tanto situação quanto oposição nunca vão se acostumar com a democracia. PSDB e seus correligionários não se conformam com o fato de terem sido derrotados duas vezes por um metalúrgico “analfabeto”, como eles mesmos chamam o Lula, numa vã tentativa de ofende-lo num país onde quase metade da população é incapaz de compreender o que lê. O PT, por sua vez, acredita piamente em um complô da grande imprensa contra a esquerda. Aliás, aqui parece ser o último lugar do mundo onde direita e esquerda parecem ser termos que servem para definir algo mais além de destros e canhestros.
Lulistas continuam indo na onda do “eu não sabia” e a oposição, ao que tudo indica, esqueceu como FHC aprovou a reeleição, numa operação que foi uma espécie de protótipo do tal mensalão. Os mais despreparados no joguete – eleitores oposicionistas que não lêem jornal mas são metidos a analistas políticos –, quando não tem do que falar (ou seja, quando o pessoal do Lula não faz nenhuma besteira, algo raro) lançam mão de argumentos nada mais que constrangedores, como o tropeço do presidente em algum discurso ou fala pública. Algo tão pueril – a tentativa de dar-lhe, de vez, a alcunha de burro – quanto inócuo – mais uma vez, creio que não menos do que a metade da população é incapaz de perceber o tropeço, não importa o quão didático você consiga ser.
A estratégia dos lulista despreparados, no entanto, é um pouco mais eficiente – já que se aproveita de nossa congênita falta de memória –, mas nem por isso é menos medíocre: ressaltar a maravilha de país que se ergueu das cinzas como uma fênix nos últimos cinco anos.
A guerrilhazinha que mais parece joguinho de polícia e ladrão talvez não seja culpa de ninguém. Talvez seja cultural. Por aqui vale o velho argumento de que, se você não está comigo, está contra mim. Aqui, negar-se a participar da babaquice panfletária que come solta em ambos os lados é visto como covardia, o velho “ficar em cima do muro”. A falta de auto-crítica é um dos principais problemas de um país que comete a proeza de unir-se em uma patriotada constrangedora para ter um monumento figurando no cânone das Sete Maravilhas do Mundo. Ou, onde a periferia comemora a independência assistindo ao desfile dos mesmos bem apessoados militares que, quando se trata de pobre, atiram pra matar – Rone, Rotan e demais siglas que abrigam um eufemístico “ostensivo”.
Antigamente, coisas como direita, esquerda e o Sete de Setembro talvez até pudessem fazer sentido. Depois das camisetas do Che Guevara, do PSOL, de Chávez, dos discursos da Hebe Camargo no inconcebível “Cansei” e das incontáveis mazelas nacionais, tudo foi parar no catálogo de inutilidades vendáveis, junto com as quinquilharias de auto-ajuda que continuam brotando aos montes por aí.
De minha parte, troco tudo por uma cerveja.

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