Thursday, September 13, 2007

MINI-SANDOVA
(asneiras de uma mente psicopata em doses homeopáticas)


...

Acordou às 6h30 da manhã e abriu a janela. Um sorriso da mais extrema satisfação estampou-lhe o rosto. Pouco importava que o dia estivesse horrivelmente feio, nublado, com o peculiar chuvisco que em dias ruins anuncia desde cedo que o dia todo será irremediavelmente uma droga. Tampouco importava que diante de sua janela erguia-se, imponente, uma muralha coberta de fuligem que correspondia à parede de uma fábrica de qualquer porcaria que seja, dessas coisas que fábricas fabricam. Pouco importava, também, que as dezenas daqueles muros fossem quase o único elemento que constituía a paisagem do bairro industrial e nauseabundo onde morava.
Ficou lá, pasmado, feito um bobo, com o sorriso idiota no rosto.
Às 7h, tomou o mais saboroso café da manhã de sua vida. Três xícaras depois, deu uma olhadela no jornal de dois dias atrás. Conversou com o cachorro, que continuava jogado no canto onde costumeiramente ficava jogado. Não obteve resposta, obviamente. Roberto, ainda com o sorriso idiota, parecia ignorar o fato de que não há registro histórico que dê alguma pista, por menor que seja, de que em algum passado, por mais longínquo que fosse, um homem conseguiu ao menos trocar duas sentenças simples com um cão. Mas Roberto, em sua felicidade boboca, continuou falando. O cão, admitindo sua humilde condição, nem ao menos esboçou qualquer intenção de querer responder ou de entender uma palavra sequer. Abanou o rabo, bestamente, mas isso foi tudo. Roberto falou mais um pouco. O cão ficou calado. A ocasião, certamente, não iria entrar para os anais históricos de homens e cães.
Às 8h, o cão, deitado sobre o flanco esquerdo, cansou-se e resolveu ficar um pouco jogado para o lado direito. Roberto levantou-se. Pegou a maleta de couro surrada, apanhou as chaves e saiu para os corredores bege-prédio-de-apartamentos do prédio de apartamentos bege em que morava. No alto da escada, no entanto, tropeçou nos cadarços dos sapatos que ele, em sua boboca satisfação, havia esquecido de amarrar. Rolou por quatorze degraus de escada e estatelou-se frente à porta que dava para a rua.
Morreu de concussão, no dia em que havia decidido terminantemente que, finalmente, iria esmurrar seu chefe.

1 Comments:

At 12:15 PM, Anonymous Anonymous said...

Ainda bem que eu gosto do meu chefe!

 

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